Terroir é um dos aspectos que mais influenciam as características sensoriais dos chás. Um terroir é definido pelas propriedades de solo, clima (precipitação, insolação, temperaturas etc.), altitude e latitude de uma determinada região – assim como por elementos que levam em conta a participação direta do homem, tais como práticas culturais de cultivo e de processamento das safras locais. Tais propriedades são cruciais para o desenvolvimento de aromas e sabores, além da sobrevivência e desenvolvimento da planta do chá.
Em linhas gerais, para a Camellia sinensis solos com uma riqueza mineral são os ideias. Neste quesito, contudo, o essencial é uma certa acidez, um balanço entre umidade e drenagem e, sobretudo, profundidade. O complexo de raízes de uma planta adulta de chá, de cultivares arbustivos pequenos, que atingem até 1,5m de altura, chega a penetrar na terra o dobro deste comprimento. Como este complexo de raízes é a porta de entrada dos nutriente, solos argilosos ou com elementos rochosos em demasia, com tendência a concentrar umidade ou que tenham um pH desajustado, podem impedir que a planta absorva as substâncias necessárias de maneira ótima.
Em termos de clima, são os subtropicais com maior variabilidade térmica e pluviométrica aqueles que mais agradam os cultivares da espécie e altitudes elevadas, a despeito de estressantes para eles (exatamente por isso, na verdade), produzem uma nutrição mais rica e concentrada, capaz de gerar chás com perfis sensoriais mais complexos e interessantes.
O estresse gerado pelas altitudes elevadas e pelos climas com maior variabilidade são responsáveis por produzir e concentrar substâncias chamadas de metabólicos secundários, produtos de reações metabólicas que não estão diretamente ligados aos sistemas normais de crescimento, desenvolvimento e reprodução da planta, mas sim a sistemas secundários, notadamente aqueles associados à proteção e à adaptação. Tais metabólicos, dentre os quais as catequinas e diversos óleos essenciais, são essenciais para a produção de infusões com corpos complexos e maior riqueza de aromas e sabores. Em altitudes elevadas, ademais, o crescimento das plantas é desacelerado o que permite que os metabólitos secundários não apenas surjam, mas também se concentrem, elevando a complexidade dos chás ainda mais. Neste quesito é notável que diversos dos terroirs mais famosos estejam acima de 1.500m de elevação sobre o nível do mar (Wuyi Shan a 2.160m; Huang Shan a 1.860m; Yi Wu a 1.650m; e Darjeeling a 2.042m etc.).
A latitude, por sua vez, determina a amplitude dos ciclos de produção de novas folhas na planta. Como a Camellia sinensis produz novas folhas apenas sob certas condições climáticas (grosso modo apenas quando há mais de 11 horas de sol por dia e as temperaturas médias estão acima dos 13°C), quanto mais distante uma região estiver do equador, menor será a duração destes ciclos. Em regiões como o sul de Yunnan, por exemplo, as árvores de chá ali presentes dão folhas novas durante o ano inteiro, ao passo que no norte de Anhui ou Jiangsu as folhas deixam de brotar cedo no outono e voltam apenas com o início da primavera.
Entender o terroir do qual vêm os chás que prospectamos e consumimos é chave para encontrar, com maior probabilidade, chás mais interessantes. Digo com maior probabilidade pois uma região que, no papel, atenda a todas as características tidas como ideias para a produção de um chá rico e complexo pode, por uma série de fatores, não chegar a produzí-lo. Características climáticas complicadas em uma determinada safra, a utilização de cultivares com pouca adaptabilidade ao terroir em questão, um mestre de chá com técnicas de cultivo e processamento pobres – todos estes são fatores que podem por a perder o que a natureza nos deu. Da mesma forma, se estes outros elementos forem bem trabalhados em um terroir, digamos, com baixa altitude, ainda assim chás esplendidos podem surgir. As montanhas ao redor do lago do oeste, de onde vem o verde Long Jing, por exemplo, estão a míseros 200m de altitude.